Comeu e não caiu bem? Especialista avalia a segurança alimentar de opções conhecidas
Nutricionista Solange Cassar aproveita o Dia Mundial da Segurança de Alimentos para fazer o alerta
Na correria do dia a dia, quem nunca se aventurou a comer um salgado de procedência duvidosa, com certeza ainda vai passar por isso. Se você se identifica com essa situação, atenção! A ingestão de alimentos impróprios para consumo pode prejudicar – e muito – a saúde. Foi pensando em fazer esse alerta que a Organização Pan-Americana de Saúde criou o Dia Mundial da Segurança dos Alimentos, celebrado no dia 7 de junho.
O objetivo da data é chamar a atenção da população para ações que possam prevenir, detectar e gerenciar os riscos de origem alimentar. Nesse quesito, contar com informações importantes antes do consumo é a melhor forma de evitar um mal-estar posterior.
“A primeira coisa é avaliar o tipo de alimento. Algumas opções são muito mais perecíveis do que outras”, esclarece a nutricionista Solange Cassar, diretora da Normalize Nutrição, empresa especializada no controle de qualidade e segurança alimentar. “Farináceos, por exemplo, possuem uma quantidade de água muito pequena e, consequentemente, a proliferação de bactérias é baixa. As opções perecíveis têm quantidade de água e nutrientes adequados e, sem um armazenamento correto, permitem a rápida multiplicação de organismos nocivos.”
Além da perecibilidade, existem outros fatores importantes para garantir a segurança do alimento. A atenção ao manejo, local de consumo, procedência dos insumos e o tempo de exposição ambiental são alguns dos quesitos que podem alterar a qualidade do alimento.
Para auxiliar nessa percepção, a nutricionista avaliou algumas opções bem conhecidas, com notas de 0 a 10, e indicou quais aspectos é preciso ficar atento. Confira:
Coxinha do terminal de ônibus – Nota 5
Uma opção clássica para os momentos de fome, uma coxinha, se frita e armazenada corretamente – com um óleo dentro do padrão de qualidade, não costuma oferecer grandes riscos. É preciso, porém, saber se ela não passou muito tempo exposta até ser consumida.
“A coxinha não pode passar três dias ali, na estufa”, relata Solange. “Uma saída, é preguntar ao atendente se o salgado é do dia antes de comprar.”
Porção de camarão na praia – Nota 3
Uma das tentações durante o período de descanso, o camarão, por si só, já é uma alternativa altamente perecível. Quando vendido por ambulantes, ou até mesmo em quiosques, garantir os requisitos necessários é bem difícil.
“Apesar de ser servido fresco, muitas vezes o camarão pode ter vindo de um fornecedor sem selo de inspeção. Além disso, é um produto extremamente perecível e precisa de um armazenamento bem gelado, de no máximo 2° C”, revela a especialista. “Mesmo depois de frito, o consumo ainda será feito na praia, onde a areia levanta com o vento e nossa mão nem sempre está tão limpa.”
Espetinho de churrasco na rua – Nota 7
Se você é daqueles que sente o cheiro de longe, aqui vai uma boa notícia. Com uma carne de boa procedência e o correto armazenamento, um espetinho bem passado pode ser uma alternativa segura.
“Como ele é feito e consumido na hora, não temos a preocupação com o tempo de exposição”, esclarece Solange. “Além disso, é assado em uma grelha, então não temos que ter medo de uma contaminação química pela qualidade do óleo.”
Pastel de feira – Nota 4
Se o óleo não gera preocupação no espetinho, no pastel, ele merece uma atenção especial. O fato de ser utilizado e reaquecido várias vezes pode favorecer uma contaminação química. Além disso, antes de serem fritos, os pastéis ficam em gavetinhas sem a correta temperatura de armazenamento.
“A gente também precisa ficar atento ao recheio escolhido. Pastéis de peixe, ou frutos do mar, são mais perecíveis, portanto, o risco é maior”, elenca a nutricionista. “Na sequência, são os com carne e, por último, os de queijo.”
Restaurante de culinária japonesa – Nota 3
Calma! Não precisa se assustar com a nota e cancelar o próximo rodízio. Mas é preciso compreender que, dependendo da procedência dos insumos e da atenção no manejo, sushis e sashimis podem oferecer grandes riscos.
“Como não vai ter o procedimento de cocção para eliminar os microrganismos, é preciso ter um cuidado extra na escolha de um fornecedor idôneo. Na hora de preparar, o ideal é manipular o menos possível o alimento antes de servir e ficar atento ao tempo fora da refrigeração adequada”, alerta Solange. “Como esse processo precisa ter mais qualidade e melhor treinamento, muitas vezes, isso acaba refletindo no preço do produto, uma vez que esse investimento tem um custo extra para garantir tudo funcionando corretamente.”
Churrascaria – Nota 8
Quem gosta da suculência e opções oferecidas por uma churrascaria pode ficar tranquilo. Com o cuidado na compra da carne, normalmente, o armazenamento não costuma oferecer grandes problemas. Além disso, o tempo na grelha é um aliado na eliminação de agentes nocivos. Porém, para garantir ainda mais segurança, o ideal é apostar nas opções bem passadas.
“Em uma churrascaria, é normal lidar com vários tipos de carnes. Eu não sei se a tábua usada para cortar o frango foi a mesma utilizada para a carne bovina, por exemplo”, alerta a nutricionista. “Consumir uma carne mal passada que compartilhou o mesmo local com um frango pode sim trazer risco de salmonela por contaminação cruzada.”
A nota 10 existe?
Se você acabou desanimado com as notas, não se preocupe. São tantos os cuidados e protocolos para garantir a segurança de alimentos que é realmente difícil sair com a pontuação máxima.
“Para eu dar um 10, preciso conhecer cada etapa do processo e assegurar que está tudo sendo feito corretamente”, esclarece a diretora da Normalize. “O risco sempre existe, até para grandes empresas. Então, vamos dizer que a nota máxima é um 9.9.”
Lembre-se que os cuidados com a segurança de alimentos não têm o objetivo de fazer você perder o apetite. Na verdade, o objetivo e comer bem e com saúde.