Caso Isabele: amiga que matou adolescente de 14 anos em MT é indiciada junto com namorado, pai e sogro
Inquérito sobre o caso foi concluído e encaminhado ao Ministério Público. Adolescente, no entanto, continua em liberdade e caberá ao MP pedir ou não a apreensão dela
A polícia concluiu o inquérito sobre a morte de Isabele Ramos Guimarães, de 14 anos, em um condomínio de luxo, em Cuiabá, no dia 12 de julho. O documento aponta que a amiga, também de 14 anos, que atirou no rosto dela, deve responder por ato infracional por homicídio doloso – quando há intenção de matar –, imprudência e imperícia.
O delegado Wagner Bassi, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que conduziu a investigação, afirmou, em entrevista coletiva, nesta quarta-feira (2), que a versão apresentada por ela, no decorrer do inquérito, era incompatível com o que aconteceu no dia da morte e que a conduta dela foi dolosa, porque, no mínimo, assumiu o risco de matar a vítima.
Além da adolescente, o namorado dela, de 16 anos, também vai responder por ato infracional análogo ao porte ilegal de arma de fogo, porque transitou armado, sem autorização. Ele tem 16 anos e levou as armas para a casa da namorada. O tiro que matou Isabele partiu de uma dessas armas de fogo, que pertencia ao pai do jovem.
Por causa disso, o pai dele também foi indiciado. Segundo o delegado, mesmo tendo alegado que não tinha conhecimento de que as armas tinham sido levadas pelo filho para o local, ele foi indiciado por omissão de cautela na guarda de arma de fogo, já que teria obrigação de guardar as armas em local seguro.
Já o pai da adolescente que atirou, que é empresário, foi indiciado por posse de arma de arma de fogo, homicídio culposo, entrega de arma para adolescente, previsto no Estatuto do Desarmamento, e fraude processual. Segundo Bassi, a adolescente tinha conhecimento sobre armas enquanto praticante de tiro esportivo.
“Ela era treinada, capacitada. Quando a gente faz treinamento em curso de tiro, antes de pegar em uma arma a gente aprende sobre segurança, a desmuniciar uma arma e a olhar se arma está municiada ou carregada. Então no mínimo, ao estar no banheiro com a amiga, ela assumiu o risco de gerar a morte da adolescente”, explicou.
“Em nenhum momento, a lei autoriza que o adolescente transite com arma de fogo. Apenas pode usar no clube de tiro, sob a supervisão de um adulto”, destacou o delegado.
“Ele agiu com imprudência e negligencia, ao permitir que a filha pegasse na arma de fogo. Ele é um atirador desportivo e não podia permitir que a filha pegasse na arma. Por isso foi indiciado por homicídio culposo (quando não há intenção de matar)”, afirmou.
O que aponta a investigação
Para o delegado, ele teve algumas condutas que podem ter atrapalhado a investigação. “Quando a equipe do Samu chegou, havia apetrechos de armas em cima da mesa e ele pediu para que a mulher guardasse. Isso não poderia ter sido alterado”, disse.
A cápsula da bala que atingiu a adolescente na cabeça também foi movimentada depois do crime pelo filho dele, que é irmão gêmeo da adolescente que atirou, o que pode ter atrapalhado a investigação.
Durante a coletiva, o delegado e a equipe dele apresentaram slides com imagens ilustrativas, para exemplificar como aconteceu, de acordo com os laudos periciais.
A polícia concluiu que, no dia do crime, o namorado da adolescente levou duas armas na mochila para a casa da autora do disparo. Quando chegou na casa dela, ele tirou as munições delas e as armas circularam pelas mãos das pessoas que estavam no local, sem munição.
As armas continuaram no local, expostas, e estavam na mesa da sala para manutenção. “Havia visitas na casa, não eram só os filhos, e para nós causou perplexidade. Na casa também não havia cofres para guardar as armas”, disse.
Às 21h59, o adolescente saiu da casa.
A adolescente então pegou as armas e levou para o quarto dela.
No quarto dela, ela deixa uma das armas no case e pega a outra que estava municiada. Ela foi para o banheiro, onde a vítima estava fumando cigarro eletrônico. Elas ficam no banheiro 1 minuto e 18 segundos e nesse intervalo de tempo acontece o disparo.
A arma tinha sido municiada na cama, com golpe do ferrolho, e com isso ela tinha condições de disparar. Mas não se sabe o momento em que isso aconteceu.
As câmeras da casa são ativadas por movimento. Então, quando a porta abre, inicia a gravação com uma gritaria depois que o crime já tinha acontecido e pedidos de socorro.
O crime ocorre entre a saída do namorado e esse segundo momento, da gritaria na casa.
A adolescente alegou que o case caiu e quando ela foi pegar, a arma disparou acidentalmente. As análises da perícia identificaram marcas de sangue, por meio do luminol, reagente químico, sangue na arma, na roupa dela e no chão.
“Não havia sangue, então aquela versão foi descartada. Por que se ela tivesse do jeito que disse, esse sangue teria espirrado no case, mas o case não estava na cena do fato”, explicou.
Pela forma que a vítima caiu, não teria como o tiro ter sido disparado do local onde a adolescente disse em depoimento à polícia, segundo a investigação. Ela havia alegado em depoimento que estava do lado de fora do banheiro.
“Pela nossa estrutura corpórea, a gente diz que desliga a vítima, porque pega uma parte do crânio que a pessoa não sente nem dor, porque pega o eixo do cérebro com o corpo, e faz com que a vítima caia reta, mas nessa posição joga o corpo para trás. Então, se a pessoa que atirou estivesse na porta, a vítima teria que cair de outra forma”.
Houve alterações no corpo para os primeiros socorros, mas continuou no mesmo lugar.
“Esse caso gerou muitas especulações, ilações, suposições, circulando nas mídias sociais, e quero deixar claro que o nosso trabalho é técnico, baseado em elementos probatórios concretos. Se não é algo que a gente pode provar, a gente nem vai falar”, disse Bassi.
O inquérito já foi encaminhado ao Ministério Público Estadual (MPE).
Ainda podem ser feitas diligências complementares.
Fonte: G1